quarta-feira, 23 de abril de 2008

Cinema novo

Após dinossauros voltarem à vida com Steven Spielberg, hobbits, elfos e humanos interagirem na trilogia de Peter Jackson e o impossível se concretizar nas missões dirigidas por Brian de Palma, o cinema parecia ter chegado ao ponto culminante. Mas em 2006 a obra SMS Sugar Man do diretor sul-africano Aryan Kaganof surpreende tecnologicamente o mundo da sétima arte. Seu filme entra para a história como primeiro longa-metragem feito com imagens -todas- captadas pelo aparelho celular.
A novidade começa em 2004 com o primeiro Festival de Cinema no Celular organizado pela produtora independente de festivais de cinema de Atlanta, nos Estados Unidos, Zoie Films. Um ano depois surge o Festival Pocket Films – filmes de bolso –, em Paris, cidade onde surgiu oficialmente a arte nas telas. Em 2006, vem a mostra Olhares em Portugal. Em dezembro do ano passado a onda também apareceu no Japão. E, assim, a tendência se populariza. Mas a obra lançada por Kaganof em 2006 foi um marco, já que era um longa-metragem - os outros vídeos exibidos até então tinham no máximo dez minutos.
Quarta tela
Quando o primeiro aparelho "tijolar" chegou ao mercado, ninguém imaginava que futuramente ele serviria de janela ao mundo e seria multifuncional. Entrar na Internet, ouvir mp3 ou rádio, acessar notícias, fotografar ou filmar: todas essas funções disponíveis em um objeto que cabe até nos apertados bolsos das calças jeans.
Como se isso não bastasse, agora o aparelho também é chamado de quarta tela, já que permite às pessoas assistirem vídeo-clipes e recentemente filmes. Para não ficar de fora, dia 31 de março os estúdios norte-americanos de cinema Sony, AT&T e MediaFlo anunciaram o lançamento do Pix, canal de filmes que irão disponibilizar nos telefones móveis. Emissoras de TV já estudam essa possibilidade. Tudo indica que em breve se possa acompanhar programações televisivas, filmes, seriados, através do minúsculo aparelho que mal se dá valor e muitas vezes é jogado de qualquer jeito em cima da cama ou sofá quando se chega em casa. Talvez seja o fim do tédio nos metrôs, ônibus e aeroportos.
Nova Vanguarda
O cinema feito por celular deverá entrar para a história como vanguarda do século 21 já que tem identidade própria. Mesmo com o recurso explorado pelo diretor Aryan Kaganof de utilizar oito aparelhos de celulares, a nova tendência tem várias limitações que apontam para o cinema primitivo.
Sem efeitos especiais ou zoom – já que assim se perde a qualidade –, a falta de recursos obriga a utilização em peso da criatividade para que se crie algo que, nessa nova era, desperte curiosidade e prenda o telespectador. Com a praticidade qualquer um poderá ser cineasta, mas terão destaque aqueles que melhor derem asas à imaginação. Esse é o recurso explorado pelo longa-metragem Lol, filme independente e vencedor de prêmios em festivais alternativos, disponível na rede. As gravações foram feitas através de câmeras de celular, webcans e imagens retiradas do You Tube e Orkut. Os enredos não tiveram sequer um pré-roteiro. O diretor e produtor Joe Swanberg apenas dizia o que se passava na cena e os atores faziam ela se desenrolar sem textos decorados. O filme fala das relações modernas e a tecnologia, através de cenas aleatórias e montagens criativas.

Por Mônica Jorge

Nenhum comentário: